REC #26 | Tempo de mudanças
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O torcedor do Vitória tem mais um nome para chamar de treinador: Wagner Lopes. O agora técnico rubro-negro se consagrou no futebol asiático quando jogador nos anos 90, e chegou a se naturalizar japonês. Na primeira entrevista em Salvador, contou ter trazido do oriente filosofias que norteiam seu trabalho. Quer dizer que agora os treinos na Toca do Leão vão remeter a atividades do cotidiano como encerar o carro e pintar a cerca? Não. Mas se você pensou isso, provavelmente assistiu muito Karatê Kid na sessão da tarde. Parabéns!
Não sei quais aspectos da cultura asiática Wagner Lopes vai implementar no Vitória, mas para o bem dele é importante ensinar a diretoria a ter paciência. O treinador já é o décimo a comandar o clube na gestão de Paulo Carneiro, que começou no fim de abril de 2019. Em média, cada técnico contratado pelo presidente fica menos de três meses na Toca do Leão.
Os melhores desempenhos do Rubro-Negro nesse período foram sob as batutas de Geninho (50,6%) e Rodrigo Chagas (51%). Eles também são os que mais passaram tempo no cargo, e cumpriram a missão de salvar o time do rebaixamento para a terceira divisão. Geninho em 2019, e Rodrigo Chagas em 2020. O desafio de Wagner Lopes em 2021 é o mesmo, o que mostra que as sucessivas trocas de comando não têm adiantado muita coisa.
Não vai ser nenhuma surpresa se a próxima troca de treinador acontecer na Cidade Tricolor. Por lá a cultura não é tão diferente, o que coloca Dado Cavalcanti em apuros, já que o Bahia está em meio a uma sequência de seis jogos sem vitórias na Série A. A zona de rebaixamento nunca esteve tão próxima, e o Esquadrão tem uma sequência complicada até o fim do primeiro turno. O time vai visitar dois adversários que também lutam contra o Z-4 (Grêmio e Fluminense), e depois recebe um dos melhores do campeonato (Fortaleza).
PRIMEIRO TEMPO
Pela primeira vez na história cinco times do mesmo país chegaram às quartas de final da Taça Libertadores: Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG, Flamengo e Fluminense. Os resultados dos jogos de ida aproximaram essa edição do torneio continental de mais um feito inédito, uma semifinal 100% nacional. Vale lembrar que os dois últimos campeões foram brasileiros (Flamengo e Palmeiras), e que a decisão mais recente teve duas equipes do Brasil (Palmeiras 1 x 0 Santos). A Conmebol acredita que afunilar a competição com a rivalidade argento-tupiniquim é a receita para o sucesso. Eu acho que fica insosso. Mas é isso aí, se nada for feito com a distribuição das vagas para a Libertadores, a tendência é que o cenário passe a se repetir.
Brasil: 7 vagas
Argentina: 6 vagas
Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai, Peru, Uruguai, Venezuela: 4 vagasUm dos favoritos ao título da Libertadores, o Flamengo fez uma campanha de dia dos pais que foi tão massa, quanto assustadora. Com ajuda de uma tecnologia eles replicaram a voz do, já falecido, pai de Zico, e mandaram uma mensagem para o craque. Foi emocionante de assistir, mas também um pouco aterrador. O uso de Inteligência Artificial para “trazer alguém de volta” é literalmente o roteiro de um episódio de Black Mirror, série de ficção científica da Netflix. A trama em questão foi ao ar em 2013, com debates sobre o acesso às nossas informações e o rastro que deixamos no ambiente online sempre que ‘negociamos’ com sites e aplicativos. Oito anos depois, o que era ficção científica já é realidade em ações publicitárias, feitas cada vez mais sob medida para emocionar os clientes que as marcas conhecem tão bem.
SEGUNDO TEMPO
Há quem diga que a ida de Lionel Messi para a França cria um reordenamento das principais ligas no Velho Mundo, mas eu não compartilho dessa ideia. Acredito que o Paris Saint-Germain vai aparecer sim como grande atrativo na Liga dos Campeões, mas não vejo a Ligue 1 à frente da La Liga, que mesmo sem o craque argentino, ainda tem boas histórias para contar. Prova disso é o tanto de clubes espanhóis campeões da Liga Europa. O futebol por lá sempre foi além de Barcelona (Messi) e Real Madrid (Cristiano Ronaldo). O título da Internazionale na última temporada também cria boas expectativas para a Série A. Isso sem contar na Premier League, que segue à frente de todas as outras. É tempo de largada nos principais campeonatos nacionais da Europa e só de onda vou deixar aqui meus favoritos aos títulos: Manchester City; Real Madrid; Juventus; PSG; e Borussia Dortmund.
Em um futebol com mercado de transferências que apresenta valores cada vez mais irreais, o PSG foi o único destino real para Messi. Ninguém tinha dúvida de que ele iria para Paris. Chega a ser melancólico perceber que nenhum outro clube do mundo sequer se candidatou a trazer o cara. Não tentaram nem criar na cabeça dele uma dúvida entre o dinheiro ou um clube mais tradicional, ou talvez uma liga melhor, ou uma cidade com praia, mais divertida, sei lá véi, qualquer coisa! Ninguém fez nada. Além de Messi, o PSG trouxe ainda Sérgio Ramos, Wijnaldum, Hakimi, Donnarumma, e a pressão para vencer a Liga dos Campeões, único campeonato que parece importar para eles.
TRÊS DE ACRÉSCIMO
A última semana foi marcada por muitos acontecimentos no surfe, que agora faz parte do clube dos esportes olímpicos. Depois de ser campeão em Tóquio, Ítalo Ferreira caiu nas quartas de final da etapa do México no Circuito Mundial. Gabriel Medina foi eliminado na mesma fase, mas teve brasileiro na final. Deivid Silva perdeu o título para o Australiano Jack Robinson por dois décimos: 15,16 (6,83 + 8,33) a 15,14 (7,27 + 7,87). O mar mexicano também foi palco da despedida de Adriano de Souza, o Mineirinho (34 anos). Ele foi o segundo brasileiro a ser campeão mundial (em 2015), e está na história como desbravador verde e amarelo no cenário internacional, lá no começo dos anos dois mil. A etapa do México foi a última da carreira de Mineirinho, e encerrou também a primeira parte da temporada 2021 da WSL. Agora só quem vai para a água são os cinco primeiros do ranking, no WSL Finals. O evento vai acontecer entre os dias 9 e 17 de setembro, em Trestles, na Califórnia (EUA), com quatro brasileiros. Gabriel Medina, Ítalo Ferreira e Filipe Toledo entre os homens, e Tatiana Weston-Webb na final feminina.